Embora os contratos de concessão tenham sido firmados para dar segurança jurídica a passageiros, ao poder público e aos empresários, eles são instrumentos inflexíveis, longos e de difícil gestão no Brasil. Tempo de contrato, planejamento equivocado de custos e falta de previsão de riscos ampliam as dificuldades de quem atua neste segmento, causando um efeito para toda a cadeia do transporte público.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que avaliou o transporte de 12 grandes cidades do país, incluindo Curitiba e Região Metropolitana, mostrou que nove delas contam com contratos de mobilidade superiores a 15 anos – em alguns locais, como Rio de Janeiro e Goiânia, o tempo total pode chegar a quatro décadas. As relações mais longas dificultam alterações relacionadas às exigências ambientais, tecnológicas ou estruturais nos padrões de mobilidade.
Para Zem, os sistemas são muito bem definidos no papel, mas não funcionam na prática. “O sistema de transporte é muito bonito e bem escrito no papel. Mas vemos inúmeras cidades no Brasil com problemas, como fechamento de empresas e encerramento de contratos. Em muitos casos, o que é planejado não está dentro da realidade; e, se estiver dentro da realidade, ao ser executado, não é levado em consideração o custo real daquela operação”, diz.
Uma das críticas de Zem aos contratos de concessão é a falta de previsão de riscos. “Nos atuais contratos de concessão não há previsão de riscos. A pandemia é uma situação atípica, mas não é algo previsto em contrato”, avalia. Para ele, os editais deveriam prever gatilhos específicos em relação ao subsídio e incentivo conforme o andamento do contrato. Inclusive, poderiam ser usados em caso de aumento de insumos – o diesel, por exemplo, subiu 23% no primeiro semestre de 2021.
Caso ocorra aumento de custo, haveria necessidade de equilibrar os valores sem onerar o passageiro. Neste caso, o subsídio poderia contribuir tanto na avaliação de Zem quanto na realizada pelo Idec.
Conforme a avaliação do Idec, 10 das 12 capitais avaliadas contam com indicadores de qualidade. Apesar de a maioria estar relacionada à qualidade, à segurança e ao desempenho, cada município adota uma prática específica – enquanto São Paulo avalia 15 critérios distintos, Manaus analisa apenas três. Segundo a Política Nacional de Mobilidade Urbana, o uso de indicadores é autorizado para a definição de metas de qualidade e de desempenho, assim como penalidades e incentivos.
De acordo com Zem, porém, há muitos órgãos reguladores com pessoal técnico inabilitado para exercer essa função e que não levam em conta o contexto do segmento. “Ao termos esse tipo de situação, coloca-se em risco a operação do transporte público. Muitas vezes, os órgãos estipulam índices de eficiência e qualidade e exigem melhoria contínua do serviço sem avaliar quais os reais impactos no custo do transporte público dessas exigências, criando um círculo vicioso”, afirma.