Os motoristas e cobradores são a vitrine de um transporte coletivo. Eles estão no dia a dia, atendendo aos passageiros e se relacionando com os outros atores do trânsito. Uma condução segura e de qualidade reflete na avaliação que os passageiros fazem sobre a viagem e também pode contribuir para a economia do sistema como um todo, especialmente em um ano como 2021, quando o diesel subiu 23% no primeiro semestre.
“O impacto do motorista e do cobrador é direto. Se temos um motorista bem capacitado, atencioso ao trânsito, como é exigido a ele, e que trabalha com amor e carinho, é óbvio que a qualidade do transporte vai ser melhor. Vai conseguir atingir suas metas, horários e itinerários com segurança. Traz a sensação para o usuário de bem-estar: ‘fiz uma viagem e nem percebi’”, afirma o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Anderson Teixeira.
Para se atingir este resultado, há a necessidade da realização de capacitação e treinamentos para motoristas e cobradores. Estima-se que uma condução adequada pode resultar em redução de 15% no gasto de combustível de um veículo. E os benefícios não param por aí: uma direção segura se reverte em menos acidentes e mais segurança para os passageiros – e para o trânsito de uma cidade.
Dados trazidos pela NTU, com fontes do Ministério da Saúde, apontam que ônibus é o transporte terrestre mais seguro do país. Em média, apenas uma a cada 200 mortes no trânsito ocorre por algum passageiro do modal. Deve-se ressaltar que, dentre os 0,48% do total de óbitos que envolvem esse tipo de veículo, há os ônibus rodoviários, já que a estatística não faz essa distinção.
Para Teixeira, o foco dos treinamentos deve ser na linha de entregar um serviço de qualidade. “É preciso capacitar para que o motorista exerça a sua função com qualidade. Em geral, existem cobranças de direção econômica, que se refletem também na qualidade”, diz. “Uma condução econômica também evita acidentes. O treinamento deve seguir neste sentido: investir no aperfeiçoamento para que entregue um serviço com qualidade”, ressalta.
Isso é ainda mais relevante em um país como o Brasil, onde falta uma educação voltada ao trânsito. “Muitas vezes, os demais motoristas não levam em consideração que um ônibus carrega 80 pessoas. A falta de respeito, intrínseca à sociedade brasileira, é o grande problema para o motorista de ônibus”, diz, citando que, durante a pandemia, muitos passageiros não respeitam o espaço exclusivo aos profissionais.
A presença dos cobradores nos sistemas de transporte coletivo é, por vezes, criticada. Para muitos, a retirada desses postos poderia reduzir os custos de um setor que busca meios de se tornar mais sustentável. Para Teixeira, esse profissional é fundamental na relação pessoal com os passageiros, especialmente no que diz respeito ao convívio e presteza das informações.
“O cobrador é muito importante para a qualidade, especialmente na questão das informações ao usuário. Não é só a pessoa que faz a cobrança, mas tem importante papel no auxílio ao motorista e usuário, o que impacta diretamente na qualidade do sistema. Não adianta ter um ônibus novo, se os profissionais não forem capacitados para operar e informar”, analisa o presidente do Sindimoc.
Para Teixeira, a sustentabilidade financeira do transporte coletivo é algo que preocupa a categoria. “Não temos que pensar só em subsídio, mas a sociedade contribuir com o transporte coletivo, assim como acontece com saúde. É um direito de todos, mas nem todos pagam pelo transporte. Precisamos de uma nova forma de custeio, com um rateio, que fatie isso para todo cidadão”, opina.
O subsídio e uma eventual mudança na forma de custeio seria benéfica, trazendo mais segurança aos motoristas e cobradores. “Nossa principal vantagem seria receber em dia. Não sabemos se o governo paga o subsídio em dia, o que afeta toda a cadeia. O grande problema para motoristas e cobradores é chegar ao fim do mês sem saber se vão receber, ainda mais em meio à pandemia”, diz.