Investir em transporte coletivo significa mais qualidade de vida e segurança no trânsito, diz o presidente executivo da NTU, Otávio Vieira da Cunha Filho
A busca pelo menor custo, a rapidez no deslocamento, além da fuga dos congestionamentos e do trânsito pesado nos horários de pico, estão fazendo com que moradores da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) substituam o carro pelo transporte coletivo na hora de ir para o trabalho na capital paranaense.
Esse é o caso da jornalista Bárbara Lobo, 31 anos, que utiliza a Rede Integrada de Transporte Coletivo de Curitiba (RIT) a partir da cidade de São José dos Pinhais. De acordo com ela, o ônibus representa economia no final do mês, pois de carro ela gastaria com gasolina e estacionamento. “No trânsito, andar de ônibus é mais rápido, já que muitos passam pelas canaletas. Além disso, é mais econômico”, revela. Morador de Campo Largo, também na RMC, o corretor de seguros Sebastião José dos Santos, 42 anos, tem a mesma opinião. “Opto pelo ônibus para não me preocupar com estacionamento e EstaR em Curitiba. Fujo também do estresse do trânsito”, diz.
Assim como Bárbara e Sebastião, outras 455 mil pessoas circulam diariamente pelas linhas metropolitanas, segundo dados da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). E você já imaginou o que aconteceria com essas pessoas se o transporte coletivo deixasse de existir repentinamente? Muitas não teriam como seguir para suas atividades cotidianas e outras, tirariam seus veículos da garagem, abarrotando as ruas de carros e motocicletas.
Segundo ranking TomTom Traffic Index, Curitiba é considerada a nona cidade mais congestionada do Brasil e tem um veículo para cada 0,73 pessoas, conforme dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) e das estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Reflita agora como ficaria o trânsito curitibano se 1,4 milhão de veículos da frota de Curitiba resolvesse sair às ruas ao mesmo tempo, sem contar com o número de automóveis, caminhões, motocicletas e outros motorizados existentes na RMC.
Em uma situação hipotética, Ayrton Amaral, CEO da Metrocard, explica que, com o fim do transporte coletivo na região de Curitiba, mais de 90 mil pessoas na RMC, entre idosos e deficientes, perderiam o benefício do transporte gratuito. Sem contar os outros 350 mil passageiros que necessitariam de outros meios de deslocamento para o trabalho, escola ou faculdade. “Se essas pessoas viessem com automóvel para seu trabalho, teríamos pelo menos mais 100 mil carros congestionando o trânsito pela manhã e pela tarde. As consequências seriam nefastas, pois o tempo perdido no trajeto seria de horas a mais, teríamos mais acidentes e mais danos ao meio-ambiente”, alerta.
Amaral, que é especialista em mobilidade urbana, informa que os demais cidadãos também sofreriam os mesmos reflexos e as consequências seriam muitas. “Isto significa que toda a grande Curitiba passaria a ter tempos de deslocamento similares a metrópoles como São Paulo, por exemplo. O custo em perda de produtividade para as empresas seria impactante e diminuiria significativamente a atratividade da região para novos investimentos. A qualidade de vida das pessoas seria seriamente prejudicada, e isto não tem preço”, acrescenta.
Para Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), as cidades jamais poderão abdicar do transporte coletivo como prestação de serviços à população. De acordo com ele, mesmo com o crescimento do transporte sob demanda e dos serviços por aplicativos, os ônibus representam papel fundamental para o dia a dia de todos. A falta de investimentos no setor traria diversas consequências sociais e ambientais. “O transporte coletivo precisa ser privilegiado aos outros modos de deslocamento. O mesmo deve acontecer com o ciclismo e o andar a pé, que precisam ser estimulados”, comenta. Segundo o presidente da entidade, o acesso das pessoas ao transporte coletivo é constitucional e seu fomento cumpre a Política Nacional de Mobilidade Urbana, definida pela Lei n° 12.587/2012.
O investimento em transporte coletivo e em políticas públicas voltadas à mobilidade urbana contribui, por exemplo, com a segurança das pessoas no trânsito e com a redução de gastos públicos com acidentes e doenças. Segundo Otávio, por ano, aproximadamente 40 mil pessoas perdem a vida em acidentes e 200 mil pessoas ficam feridas no trânsito brasileiro. Dos acidentes com mortes, 66% ocorrem envolvendo as motocicletas e os automóveis e menos de 1% corresponde ao transporte público.
O incentivo ao transporte coletivo, para Otávio, garante mais qualidade de vida à população e democratiza o uso do espaço urbano. Um levantamento da NTU realizado antes mesmo do incentivo à aquisição de veículos particulares – como a redução da alíquota do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), por exemplo – mostrou que os carros e motocicletas correspondiam a 70% dos veículos que trafegam nas vias dos grandes centros urbanos e são responsáveis por mais da metade da ocupação do espaço viário. Em contrapartida, os veículos do transporte coletivo ocupam apenas 32% das ruas, ao mesmo tempo em que transportam 76% das pessoas, contra os 20% a bordo dos veículos particulares. “Um ônibus articulado corresponde a quatro automóveis nas vias e transporta 150 passageiros. A média de pessoas por automóvel é de 1,5. Pensando assim, um ônibus articulado substitui 100 automóveis nas ruas”, revela o presente da NTU.
Um estudo da NTU publicado em 2017 afirma que os próprios congestionamentos são responsáveis pelo aumento do custo da operacional do transporte público e implicam em um acréscimo de 25% na tarifa do usuário. Isso ocorre devido ao tempo de deslocamento mais lento dos veículos do transporte coletivo pelas ruas. “Nos anos 90, a velocidade média de um ônibus era de 25 km/h. Hoje é de 13 km/h”, alerta Otávio.
Mais ônibus, menos poluição
O fomento ao transporte coletivo e às políticas de mobilidade urbana contribuí também para a redução do consumo de combustíveis e a poluição ambiental. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que um ônibus emite 1,28 kg de CO₂/km e um automóvel 0,19 kg de CO₂/km. Quando confrontados os dados do Ipea com o volume estimado de pessoas transportadas por veículos individuais ou coletivos, a conclusão é que o transporte coletivo emite aproximadamente 80% menos poluentes por passageiros com relação aos carros.
Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana estão acostumados com as discussões em torno do subsídio do transporte coletivo e do reajuste das tarifas, que a cada início de ano ganham os noticiários e a pauta de conversas entre a população. No último mês, o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior e o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, anunciaram o investimento de R$ 200 milhões para subsidiar o transporte e realizar obras no setor com o intuito de manter a tarifa acessível ao usuário e estimular, desta forma, o uso dos ônibus pela população.
Para Ayrton Amaral, CEO da Metrocard, o subsídio do transporte é essencial, especialmente em países em desenvolvimento, onde a renda média da população é baixa. Segundo ele, há alguns anos o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou qual o valor limite da tarifa do transporte, levando em consideração a renda dos brasileiros. “Esta tarifa seria o equivalente hoje a R$ 3,00 e para que a tarifa pública estivesse neste patamar, o subsídio aos passageiros deveria estar em torno de 55% do custo dos serviços”, revela. O CEO da Metrocard, diz que todos os países desenvolvidos subsidiam o transporte em percentuais que vão de 60% a 90% dos custos, entendendo que ter tarifas públicas acima do limite elástico da renda significa induzir o passageiro a deixar o sistema coletivo e migrar para o individual. “Em geral, o carro ou a motocicleta; com todos os efeitos maléficos que isto traz para a mobilidade e para a sociedade, como congestionamentos, acidentes, emissões e o custo de mais horas improdutivas no trânsito”, coloca.
O subsídio, de acordo com Amaral, é para o passageiro e dizer que o subsídio é voltado às empresas que fornecem os serviços de transporte, é um erro. “Esse tipo de informação prejudica a própria sociedade, pois faz com que a tarifa pública seja mais cara do que poderia ser. Sem subsídio, os passageiros deixam o sistema público elegendo outra modalidade”, acrescenta.
A Lei nº 12.587, de 03 de janeiro de 2012, das diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, prevê o subsídio das tarifas, por exemplo. Segundo Ayrton Amaral, as leis e regulamentos vigentes no Brasil deixam clara a necessidade dos governos em custear o transporte aos passageiros para então alcançar a desejada acessibilidade tarifária. “A mobilidade é um dos direitos pétreos da sociedade, como versa nossa constituição federal. Para que as pessoas tenham este direito é fundamental que possam arcar com as tarifas vigentes”, menciona.
Integração
Outro benefício dentro do sistema de transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana (RMC) é a integração, que permite ao usuário a utilização de mais de uma linha de ônibus pagando apenas uma tarifa. A RIT liga Curitiba a outros 13 municípios da RMC. “A integração é sempre positiva para os passageiros, pois aumenta a atratividade do transporte público. Porém, ela tem que ser planejada com muito cuidado, pois altera toda a dinâmica do transporte, podendo criar benefícios para alguns municípios em detrimento de outros. Desta forma alterando o curso natural do desenvolvimento econômico de toda uma região”, finaliza Ayrton.
Mais de 78 mil idosos e 13 mil pessoas com deficiência viajam gratuitamente nas linhas de ônibus da Região Metropolitana de Curitiba que fazem parte do sistema Metrocard. Para solicitar a isenção da tarifa, o cidadão deve comparecer a um dos postos de atendimento Metrocard, munido de CPF, RG e comprovante de residência. Para pessoas com deficiência, é exigida a apresentação de laudo médico e avaliação socioeconômica.
A gratuidade no transporte coletivo urbano para pessoas com mais de 65 anos é uma garantia constitucional. De acordo com o Metrocard, a primeira via do cartão transporte de isento é emitido na hora, sem custo para o cidadão.
Confira o endereço dos postos de atendimento Metrocard disponíveis em Curitiba e RMC:
– Central – Rua Benjamin Constant, 148 – Centro – Curitiba
– Campo Largo – Terminal Urbano de Campo Largo
– Colombo – Terminal Guaraituba
– Pinhais – Terminal de Pinhais
– Fazenda Rio Grande – Terminal Fazenda Rio Grande
– São José dos Pinhais – Terminal Central
– São José dos Pinhais – Terminal Afonso Pena