Por Daniele Blaskievicz
A tampa de panela que virava um volante, o pedaço de pau que se transformava na marcha e uma alavanca improvisada para abrir a porta do veículo. Esses eram os “acessórios” que João Dirceu, na época com 15 anos, usava para projetar mentalmente as viagens de ônibus que conduzia. Com direito a paradas, conversas rápidas com os passageiros imaginários e até mesmo os percalços do caminho, uma reprodução do trajeto que fazia diariamente para ir à escola, repetindo os gestos que via dentro do coletivo.
Passadas mais de quatro décadas, o que João Dirceu visualizou ainda na adolescência se transformou em realidade. E também em motivo de realização pessoal. “Ser motorista de ônibus e trabalhar na Reunidas eram meus sonhos. Era como acertar na loteria”, afirma o hoje experiente trabalhador. São 25 anos como profissional, 23 deles na Reunidas, fazendo o trajeto entre Mandirituba e Curitiba.
Nem mesmo a aposentadoria, há três anos, afastou João Dirceu da boleia. “Eu gosto demais do que eu faço. Não sei se vou me acostumar quando parar de trabalhar”, salienta.
GRATIDÃO
O motorista, que é figura conhecida entre todos os passageiros, conta que há um misto de satisfação pessoal e gratidão a Deus por poder conduzir as pessoas. “Eu me sinto bem, fico muito feliz de pensar que sou eu que estou levando aquelas pessoas em segurança para o trabalho, para o passeio, ao shopping”, afirma.
“João do Ônibus”, como é conhecido por muita gente, costuma fazer duas linhas da Reunidas: Areia Branca (Mandirituba)/Curitiba e Pinheirinho/Quitandinha. Não há um horário fixo de trabalho. Segundo ele, depende da escala que é definida mensalmente. “Eu me ajusto a qualquer horário. O importante é trabalhar. Eu gosto de dirigir, gosto de estar no trajeto”, comenta.
A preocupação com os passageiros é tanta que ele conta já ter tomado algumas decisões bastante arrojadas. Uma delas foi quando desviou o percurso porque um jovem que estava no ônibus começou a passar mal.
“O ônibus estava cheio, mas eu não pensei duas vezes. Dirigi para o posto de saúde da Fazenda Rio Grande e só saí de lá quando vi que o menino estava bem”, relembra. A iniciativa, há cerca de 15 anos, até hoje rende agradecimentos do rapaz e de sua família. “Até hoje, quando ele ou a mãe dele me encontram, eles me agradecem. Isso me emociona. É a sensação de ter feito direito o meu trabalho”, enfatiza.
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