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Entre volantes reais e imaginários

Tribuna do Paraná - 04/12/2020

Desde a adolescência João Dirceu sonhava conduzir as pessoas para suas rotinas diárias

Por Daniele Blaskievicz

A tampa de panela que virava um volante, o pedaço de pau que se transformava na marcha e uma alavanca improvisada para abrir a porta do veículo. Esses eram os “acessórios” que João Dirceu, na época com 15 anos, usava para projetar mentalmente as viagens de ônibus que conduzia. Com direito a paradas, conversas rápidas com os passageiros imaginários e até mesmo os percalços do caminho, uma reprodução do trajeto que fazia diariamente para ir à escola, repetindo os gestos que via dentro do coletivo.

Passadas mais de quatro décadas, o que João Dirceu visualizou ainda na adolescência se transformou em realidade. E também em motivo de realização pessoal. “Ser motorista de ônibus e trabalhar na Reunidas eram meus sonhos. Era como acertar na loteria”, afirma o hoje experiente trabalhador. São 25 anos como profissional, 23 deles na Reunidas, fazendo o trajeto entre Mandirituba e Curitiba.

Nem mesmo a aposentadoria, há três anos, afastou João Dirceu da boleia. “Eu gosto demais do que eu faço. Não sei se vou me acostumar quando parar de trabalhar”, salienta.

GRATIDÃO

Sonho de criança era ser motorista de ônibus. Foto: Arquivo Pessoal

O motorista, que é figura conhecida entre todos os passageiros, conta que há um misto de satisfação pessoal e gratidão a Deus por poder conduzir as pessoas. “Eu me sinto bem, fico muito feliz de pensar que sou eu que estou levando aquelas pessoas em segurança para o trabalho, para o passeio, ao shopping”, afirma.

“João do Ônibus”, como é conhecido por muita gente, costuma fazer duas linhas da Reunidas: Areia Branca (Mandirituba)/Curitiba e Pinheirinho/Quitandinha. Não há um horário fixo de trabalho. Segundo ele, depende da escala que é definida mensalmente. “Eu me ajusto a qualquer horário. O importante é trabalhar. Eu gosto de dirigir, gosto de estar no trajeto”, comenta.

A preocupação com os passageiros é tanta que ele conta já ter tomado algumas decisões bastante arrojadas. Uma delas foi quando desviou o percurso porque um jovem que estava no ônibus começou a passar mal.

“O ônibus estava cheio, mas eu não pensei duas vezes. Dirigi para o posto de saúde da Fazenda Rio Grande e só saí de lá quando vi que o menino estava bem”, relembra. A iniciativa, há cerca de 15 anos, até hoje rende agradecimentos do rapaz e de sua família. “Até hoje, quando ele ou a mãe dele me encontram, eles me agradecem. Isso me emociona. É a sensação de ter feito direito o meu trabalho”, enfatiza.

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