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Pagamento por aproximação e assinatura por serviço são tendências no transporte coletivo

Gazeta do Povo - 21/01/2021

Com a crescente queda do uso do dinheiro em cédula dentro do sistema de transporte coletivo, ganham espaço métodos de pagamento por aproximação, tendência vertiginosamente acelerada pela pandemia de Covid-19. Pulseiras, smartphones e principalmente cartões de crédito e débito contactless deverão ser realidade dentro de ônibus, metrôs e outros modais brasileiros nos próximos anos. É o que opinam os especialistas em pagamentos digitais e mobilidade convidados para o quarto episódio do Papo Mobilidade, uma série que está discutindo como será o transporte público do futuro.

O conteúdo — produzido pelo GazzConecta com o apoio da Metrocard, associação que representa as 18 empresas operadoras do transporte público da Região Metropolitana de Curitiba — também aborda tendências em modelos para substituir a cobrança tarifária, como o pós-pagamento, a assinatura por serviço a exemplo dos streamings e a flexibilização das taxas de acordo com o perfil de uso.

O debate conta com a presença da diretora da Mastercard para mobilidade urbana, Fernanda Caraballo, o especialista em bilhetagem eletrônica da Transdata, Rafael Teles, e o consultor técnico da Metrocard, Anderson Oberdan. Juntos, os três desenham como será o cenário de pagamentos no transporte coletivo no Brasil e no mundo. O episódio pode ser conferido também no canal no Youtube do GazzConecta, ou em podcast nas plataformas Spreaker e Spotify.

Citando dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), que mostram um crescimento no Brasil de 330% nos pagamentos com cartões de aproximação no primeiro semestre de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado, a diretora da Mastercard acredita que muito em breve os cartões bancários serão aceitos nos validadores dos sistemas de todo o país. “Dar várias alternativas de pagamento às pessoas é o segredo. Elas querem escolher pagar com o que têm na carteira. Entendemos que, com a pandemia, o uso do dinheiro em cédula para transações reduziu significativamente, como forma de evitar a contaminação”, explica Caraballo.

Além das tecnologias por aproximação, Caraballo também cita a compra antecipada de créditos em canais digitais para pagamento utilizando aplicativos e QR Codes como outras tendências em ascensão no país. “Em algumas cidades, pagamentos do transporte coletivo em dinheiro ainda representavam 40% do total de pagamentos. Mas é preciso entender que existe um custo oculto da moeda, que é a segurança, o numerário, fraudes, disponibilização de troco a bordo, entre outros. Quando você leva isto em consideração, percebe que a tecnologia também é uma oportunidade de redução de custo para operadores do transporte”, resume a especialista.

O consultor da Metrocard, Anderson Oberdan, aponta que a criação de carteiras digitais para uso dentro do sistema de transporte pode também beneficiar empresas que compram vale-transporte antecipadamente, hoje consideradas as maiores clientes deste sistema.

“A solução mais inteligente será aquela que trouxer mais agilidade para empresas distribuírem créditos digitalmente entre funcionários e for a mais benéfica para ser usada por estes passageiros. Podemos sair de cartões para chegar a pulseiras ou celulares, mas a ideia central é que as pessoas tenham crédito atribuído a elas e decidam a forma que querem utilizar para fazer este pagamento”, explica.

Para Oberdan, esta migração para as carteiras digitais também pode revelar o potencial do sistema de transporte coletivo para integrar a população aos demais serviços públicos e privados. “Temos a impressão de que todo mundo tem um cartão de crédito, mas mais da metade da população brasileira é desbancarizada. Por isso, quando falamos da participação das empresas operadoras do transporte público como provedoras de solução de pagamento e não só de recebimento do seu próprio serviço, estamos falando sobre um setor que tem um know-how de mais de duas décadas de recebimento por meios eletrônicos. Este conhecimento pode contribuir na criação de novas formas de manter a economia circulando de forma segura e dependendo cada vez menos de dinheiro em espécie”, pontua.

E se o senso comum poderia indicar que os maiores desafios para implantação desses sistemas podem estar relacionados à telecomunicação ou infraestrutura, o especialista da Transdata, Rafael Teles, explica que o obstáculo que o Brasil precisa enfrentar para atualizar o sistema está na legislação e nas diferenças socioeconômicas. “As pessoas precisam ter acesso a bancos e a estes novos meios de pagamento, como o cartão contactless. Temos também um problema institucional com legislações que engessam os novos meios de pagamento, leis que, por exemplo, detalham como o pagamento precisa ser feito, como um cartão determinado fornecido através de cadastro com foto. São esses nossos maiores empecilhos”.

Novos pagamentos
Outro importante ponto levantado pelo especialista da Transdata é a reestruturação da própria lógica de pagamentos. Para Teles, mais do que os dispositivos e formas utilizadas para acessar o transporte público, o que deve sofrer uma mudança drástica é o modelo tarifário. Alguns deles são inspirados em operações já ativas na Europa, como em Helsinque, na Finlândia — onde a população assina planos com preços mensais para uso de diferentes modais que incluem viagens de bicicleta, metrô e até táxi — ou o modelo adotado pelo sistema de Londres — onde os descontos são feitos diretamente no cartão de crédito dos passageiros de acordo com seus hábitos de uso, flexibilizando o preço de acordo com o perfil do usuário.

“A gente tem um modelo no Brasil no qual se paga pelo simples acesso ao modal. Entrou, pagou; não importa se a viagem é curta, longa, com ou sem conexão. Essa sistemática parece simples, mas é injusta. Precisamos rever este modelo, e o cartão de crédito e débito, apesar de não serem os únicos, são excelentes ferramentas para que possamos aplicar regras tarifárias diferentes para cada período, implantar pós-pagamento e garantir que não haja inadimplência”.

Teles acredita que nos próximos cinco anos estas formas de cobrança serão realidade no Brasil. “Precisamos entender como financiar o transporte público de forma ampla, sem que a única fonte seja a tarifa simples, paga somente por quem está usando. Somos o único país no mundo que adota este modelo. Se repensarmos isso poderemos estar muito em breve vivendo uma outra realidade no transporte público”, arremata.

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